A Torre do Tesouro

A Torre de Tesouro
Edição 557 - Publicado em 24/Janeiro/2015 - Página 46

Resumo e Cenário Histórico
Não é certo se Nichiren Daishonin escreveu A Torre de Tesouro durante o exílio em Sado ou depois de ter ido morar no Monte Minobu. Mas recentes pesquisas indicam que, com base no conteúdo, essa carta tenha sido escrita quando ele estava no Monte Minobu.
Uma fonte diz que Abutsu-bo foi um samurai que acompanhou o imperador aposentado Juntoku ao exílio em Sado em consequência da Rebelião de Jokyu, em 1221. No entanto, é mais provável que ele tenha nascido na Ilha de Sado. Ele era antigo morador da ilha que foi a Tsukahara para debater com Daishonin, mas acabou se convertendo ao ensinamento.
Tanto Abutsu-bo como sua esposa tornaram-se fiéis seguidores de Daishonin. Durante a maior parte do tempo em que este permaneceu exilado na ilha, o casal levou-lhe alimentos e outros artigos de primeira necessidade.
Após Nichiren Daishonin ter se estabelecido no Monte Minobu, ele recebeu pelo menos três visitas de Abutsu-bo, apesar da idade avançada desse discípulo. Abutsu-bo morreu em 1279, aos 91 anos.
A Torre de Tesouro descrita no Sutra do Lótus é de proporções gigantescas. É uma enormidade com 500 yojana1 de altura e 250 yojana de largura e profundidade — estima-se, de acordo com um cálculo aproximado, que isso corresponda a cerca de um terço do diâmetro da Terra. A torre é adornada com sete tipos de tesouro: ouro, prata, lápis-lazúli, madrepérola, ágata, pérola e cornalina. Imaginando essa torre colossal, brilhante, suspensa no ar bem diante dos olhos, uma visão de incomparável magnitude, o seu significado intrigava Abutsu-bo. Nessa carta, Daishonin oferece-lhe uma extraordinária visão da realidade da vida. A cerimônia descrita no Sutra do Lótus não é um acontecimento histórico, durante o qual uma estupa colossal adornada de joias emerge da terra. O surgimento da Torre de Tesouro simboliza uma cerimônia da vida; é uma metáfora do mais elevado estado de vida que se manifesta das profundezas do ser humano.
Frase 1

Em essência, o surgimento da Torre de Tesouro indica que, ao receberem o ensinamento do Sutra do Lótus, os três grupos de ouvintes da voz2 perceberam, pela primeira vez, a Torre de Tesouro na própria vida. Atualmente, os discípulos e seguidores leigos de Nichiren estão fazendo o mesmo. Nos Últimos Dias da Lei, não há outra Torre de Tesouro senão a figura de homens e mulheres que abraçam o Sutra do Lótus. Nesse sentido, as pessoas que recitam o Nam-myoho-renge-kyo, independentemente de serem ilustres ou humildes, de classe social superior ou inferior, são a própria Torre de Tesouro e são igualmente Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros.3 (CEND, v. I, p. 214)
Explanação
Descobrir a Torre de Tesouro
em nossa própria vida
A expressão “três grupos de ouvintes da voz” refere-se aos discípulos-ouvintes de Shakyamuni, os quais têm a iluminação profetizada no ensinamento teórico (na primeira metade) do Sutra do Lótus. Nichiren Daishonin afirma que o significado do surgimento da Torre de Tesouro é que esses discípulos, ao ouvirem o ensinamento do Sutra do Lótus “perceberam, pela primeira vez, a Torre de Tesouro na própria vida” (CEND, v. I, p. 314). Eles chegaram à percepção de que a gigantesca Torre de Tesouro que eles julgavam ter surgido fora deles, na realidade, apareceu dentro deles.
Para eles, isso era algo revolucionário, em certo sentido, tal como a visão de mundo geocêntrica de Ptolomeu foi derrubada pela visão heliocêntrica de Copérnico na Idade Média. Em sua obra Palavras e Frases do Sutra do Lótus, Tiantai explica que a Torre de Tesouro é o corpo do Buda do Darma4 e foi vista por aqueles que estavam na Assembleia no Pico da Águia, mas não chega a mencionar que eles compreenderam que a Torre de Tesouro estava em sua própria vida.
Assim como o título completo do 11º capítulo do Sutra do Lótus indica, a Torre de Tesouro “emerge” ou “surge” dentro de nós. A resplandecente Torre de Tesouro aparece majestosamente no universo interior da nossa vida, e notamos isso e despertamos para a sua presença. O surgimento da Torre de Tesouro significa reconhecer que ela é uma representação da verdadeira realidade da nossa própria vida.
Que tipo de Torre de Tesouro nós, como pessoas dos Últimos Dias da Lei, vemos dentro de nós ao ouvirmos os ensinamentos do Sutra do Lótus? Daishonin continua a explicação sobre o significado dessa grande Torre de Tesouro interna com mais detalhes.
Aqueles que abraçam o Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei são a própria Torre de Tesouro
Nichiren Daishonin afirma: “Atualmente, os discípulos e seguidores leigos de Nichiren estão fazendo o mesmo” (CEND, v. I, p. 314), no sentido de que, assim como os ouvintes da voz da época de Shakyamuni, agora seus discípulos nos Últimos Dias da Lei notam e despertam a Torre de Tesouro dentro da sua própria vida.
E, logo em seguida, vem a conhecida passagem: “Nos Últimos Dias da Lei, não há outra Torre de Tesouro senão a figura de homens e mulheres que abraçam o Sutra do Lótus. Nesse sentido, as pessoas que recitam o Nam-myoho-renge-kyo, independentemente de serem ilustres ou humildes, de classe social superior ou inferior, são a própria Torre de Tesouro e são igualmente Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros” (CEND, v. I, p. 314).
Aliás, o fundador e primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, sublinhou esse trecho em vermelho em seu Gosho e inúmeras outras frases de a A Torre de Tesouro, o que indica que ele também estudou atentamente essa carta.
Quão tocante e surpreendente deve ter sido para Abutsu-bo e sua esposa Sennichi ler estas palavras de Daishonin que explicam o significado da Torre de Tesouro, não só em termos das passagens do sutra, mas também a identificando diretamente com a própria vida deles. Talvez o casal de idosos tenha sorrido um para o outro, compartilhando uma profunda gratidão pela explicação de Nichiren Daishonin.
Nichiren Daishonin declara que a vida de todas as pessoas é a Torre de Tesouro, “independentemente de serem ilustres ou humildes, de classe social superior ou inferior” (CEND, v. I, p. 314). No budismo, a posição social é irrelevante. Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin afirma: “Quando se observa o próprio corpo, percebe-se que ele é uma estupa [ou seja, uma torre] dotada dos três mil mundos.5 E quando se olha para a mente, percebe-se que é um buda dotado dos três mil mundos” (OTT, p. 229). Podemos dizer que essa passagem indica que o nosso corpo é a Torre de Tesouro, e que o Buda Muitos Tesouros sentado em seu interior é a nossa mente.
Isso representa uma filosofia que defende o respeito absoluto por todos os seres humanos. Aqueles que não reconhecem a dignidade e o valor da vida de todas as pessoas e discriminam os outros estão, na verdade, diminuindo a eles próprios. Valorizar e respeitar os demais são o caminho para fazer brilhar a nossa própria Torre de Tesouro.
Comprovar a grandiosidade da Lei Mística por meio de nossas ações
Nessa passagem, Nichiren Daishonin também se refere à “figura de homens e mulheres que abraçam o Sutra do Lótus”. A palavra “figura” engloba aspectos tais como o nosso aspecto físico e nossas ações. Não se refere a algo abstrato ou ideal, mas sim à realidade concreta de nossa vida, a forma como nós sinceramente nos dedicamos aos afazeres cotidianos, aqui e agora.
Daishonin declara que não existe nenhuma Torre de Tesouro que não sejam os seres humanos reais. A vida daqueles que abraçam a fé no Gohonzon, recitam Nam-myoho-renge-kyo e propagam o budismo, dia após dia, brilha como entidade da Lei Mística. Cada um de nós, tal como somos, enquanto vivenciamos as alegrias e os sofrimentos deste mundo, somos uma Torre de Tesouro infinitamente nobre.
E não há quaisquer outras torres de tesouro que brilhem mais intensamente que nossos membros da SGI, que lutam incansavelmente neste mundo repleto de angústias para transformar o próprio carma e contribuir para a felicidade dos outros, sem se intimidarem com os comentários negativos de pessoas mesquinhas.
Nichiren Daishonin afirma que “as pes­soas que recitam o Nam-myoho-renge-kyo, (...), são a própria Torre de Tesouro e são igualmente Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros” (CEND, v. I, p. 314). A razão pela qual ele diz que aqueles que recitam Nam-myoho-renge-kyo são eles próprios Aquele que Assim Chega [Buda] Muitos Tesouros é porque atestam a validade do Sutra do Lótus. Aqueles que testemunham não são de modo algum meros espectadores passivos. Eles comprovam de forma ativa a Lei Mística como a verdade mais altiva e a chave para alcançar o estado de buda, desejando assumir o juramento de ir onde o ensinamento budista estiver sendo explicado ou compartilhado.
Frase 2

Não existe outra Torre de Tesouro senão o Myoho-renge-kyo.6 O daimoku do Sutra do Lótus é a Torre de Tesouro, e a Torre de Tesouro é o Nam-myoho-renge-kyo.
Neste momento, o corpo do honorável Abutsu é composto pelos cinco elementos: terra, água, fogo, ar e espaço.7 Estes cinco elementos são, por sua vez, os cinco ideogramas do daimoku. Por isso, Abutsu-bo é a Torre de Tesouro, e a Torre de Tesouro é Abutsu-bo. Nenhum outro conhecimento é relevante. A Torre de Tesouro é adornada com os sete tipos de tesouros – ouvir o ensinamento correto, acreditar nele, observar os preceitos, meditar, praticar assiduamente, renunciar aos apegos e refletir sobre si mesmo. (CEND, v. I, p. 214)
Explanação
Gohonzon, o límpido espelho
a iluminar todas as pessoas
A partir deste trecho, Nichiren Daishonin enfatiza que Abutsu-bo é a própria a Torre de Tesouro do Myoho-renge-kyo, adornada com os sete tipos de tesouro, e que Abutsu-bo é o próprio Buda. Ele então explica por que afirma que Abutsu-bo é a Torre de Tesouro.
Ele inicia dizendo: “O daimoku do Sutra do Lótus é a Torre de Tesouro, e a Torre de Tesouro é o Nam-myoho-renge-kyo” (CEND, v. I, p. 314). A Torre de Tesouro do Sutra do Lótus não é outra senão o Nam-myoho-renge-kyo. O daimoku do Sutra do Lótus é a Torre de Tesouro, que Daishonin inscreveu na forma do Gohonzon, o objeto de devoção.
No Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin diz: “Agora que Nichiren e seus discípulos recitam Nam-myoho-renge-kyo, eles enxergam e compreendem os dez mil fenômenos como se estivessem refletidos num espelho límpido. Esse espelho límpido é o Sutra do Lótus; e, em particular, é o capítulo ‘Surgimento da Torre de Tesouro’” (OTT, p. 149).
Sem um espelho não conseguimos enxergar o nosso rosto. Da mesma forma, também precisamos de um espelho límpido, a fim de ver a Torre de Tesouro de nossa própria vida. Daishonin inscreveu o Gohonzon para servir como esse espelho. O Gohonzon é a representação do seu próprio estado de iluminação, como Buda, dos Últimos Dias da Lei. Portanto, quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo diante do Gohonzon como nosso espelho límpido, nosso próprio estado de buda inerente à nossa vida emerge poderosamente. O objetivo do Gohonzon é fazer surgir essa Torre de Tesouro dentro de cada um de nós.
Somos a Torre de Tesouro da Lei Mística
No trecho seguinte, Nichiren Daishonin afirma: “Neste momento, o corpo do honorável Abutsu é composto dos cinco elementos: terra, água, fogo, ar e espaço. Estes cinco elementos são, por sua vez, os cinco ideogramas do daimoku” (CEND, v. I, p. 314). Em resumo, nosso próprio corpo é uma entidade do Myoho-renge-kyo, ou Lei Mística. A Torre de Tesouro representa cada um de nós que recitamos Nam-myoho-renge-kyo. Este é o significado da declaração de Nichiren Daishonin: “Abutsu-bo é a Torre de Tesouro, e a Torre de Tesouro é Abutsu-bo” (CEND, v. I, p. 314). Essas palavras douradas, em sua essência, podem ser vistas como a conclusão do Budismo de Nichiren Daishonin, e é por isso que logo depois Daishonin ressalta: “Nenhum outro conhecimento é relevante” (CEND, v. I, p. 314).
Essa é a profunda visão do Buda dos Últimos Dias da Lei. Para Nichiren Daishonin, a Torre de Tesouro infinitamente preciosa não brilha de forma mais reluzente em nenhum outro lugar que não seja na vida das pessoas comuns desta conturbada era. Se toda a humanidade conseguisse perceber a suprema dignidade e o valor de cada pessoa, o rumo da história mudaria para melhor. O ponto essencial está em reconhecer a dignidade da vida de cada pessoa, em abrir os nossos olhos para quanto cada indivíduo é precioso e digno de respeito.
O capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro” ensina que a vida de cada pessoa tem um valor e um brilho iguais aos do próprio universo, superando os valores de qualquer nação ou mesmo o mundo como um todo. Cada indivíduo é a personificação dessa dignidade. O verdadeiro significado do surgimento da Torre de Tesouro do Sutra do Lótus é despertar as pessoas para este sublime potencial inato que todos nós possuímos.
Os esforços que empreendemos
em nossa prática budista são
os sete tipos de tesouro
Nichiren Daishonin, então, continua: “A Torre de Tesouro é adornada com os sete tipos de tesouros – ouvir o ensinamento correto, acreditar nele, observar os preceitos, meditar, praticar assiduamente, renunciar aos apegos e refletir sobre si mesmo” (CEND, v. I, p. 314).
Se a Torre de Tesouro é a própria vida das pessoas comuns, então o que seriam os sete tipos de tesouro que adornam a vida dos que abraçam a Lei Mística, que correspondem aos sete tipos de preciosidades, tal como ouro, prata e lápis-lazúli que adornam a Torre de Tesouro no Sutra do Lótus? Daishonin diz que eles são os sete elementos indispensáveis à prática budista — “ouvir o ensinamento correto, acreditar nele, observar os preceitos, meditar, praticar assiduamente, renunciar aos apegos e refletir sobre si mesmo” (Ibidem).
Para nós, que praticamos o Budismo de Nichiren Daishonin, esses sete tipos de tesouro representam: (1) ouvir o ensinamento da Lei Mística, (2) acreditar na Lei Mística, (3) disciplinas aos preceitos da Lei Mística [ou seja, abraçar e proteger o Sutra do Lótus (o Gohonzon) (cf. OTT, p. 37)], (4) concentrar nossa mente na Lei Mística [ou seja, orar ao Gohonzon], (5) esforçar-se diligentemente na fé e na prática, (6) erradicar o nosso egocentrismo, pondo a fé em primeiro lugar, e (7) exercitar a sincera autorreflexão e tentar continuamente melhorar a si mesmo dia após dia. Daishonin ensina que todos esses elementos compõem a fé na Lei Mística. De fato, se analisarmos as nossas atividades diárias na SGI, podemos ver que esta afirmação é verdadeira.
No que diz respeito aos sete tipos de tesouro, em última análise, eles não são joias ou pedras preciosas que adornam a nossa vida e a Torre de Tesouro (natureza de buda) em nosso interior, mas sim nosso coração e nossas ações.
Frase 3

O senhor pode pensar que fez oferecimentos à Torre de Tesouro d’Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros, mas não é bem isso. O senhor fez oferecimentos à sua própria vida. O senhor, Abutsu-bo, é Aquele que Assim Chega originalmente iluminado e dotado dos três corpos.8 Deve recitar o Nam-myoho-renge-kyo com esta convicção. Assim, o lugar onde o senhor recita daimoku tornar-se-á o local da Torre de Tesouro. No sutra consta: “Se houver um lugar em que o Sutra do Lótus é pregado, então minha Torre de Tesouro surgirá e se manifestará nesse exato local”. 9 (CEND, v. I, p. 215)
Explanação
A Torre de Tesouro surge em
nossa vida exatamente onde estamos agora
Nesta passagem, Nichiren Daishonin escreve: “O senhor pode pensar que fez oferecimentos à Torre de Tesouro d’Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros, mas não é bem isso. O senhor fez oferecimentos à sua própria vida” (CEND, v. I, p. 314). Os oferecimentos que fazemos à Torre de Tesouro — isto é, ao Gohonzon — são, na verdade, oferecimentos a nós mesmos.
Daishonin também afirma que o próprio Abutsu-bo é “Aquele que Assim Chega originalmente iluminado e dotado dos três corpos” (Ibidem) — que significa um buda completo e perfeito. Esta é uma extraordinária declaração de que cada um de nós é originalmente um buda.
O Gohonzon nos permite elevar nossa condição de vida e evidenciarmos o nosso melhor. Isso é o que distingue o Budismo de Nichiren Daishonin como um ensinamento verdadeiramente humanista. Além disso, somos “Aquele que Assim Chega [Buda] originalmente iluminado e dotado dos três corpos” e somos a Torre de Tesouro, portanto, onde quer que estejamos, este é o local da Torre de Tesouro. Tal como Daishonin escreve nesta carta: “o lugar onde o senhor recita daimoku tornar-se-á o local da Torre de Tesouro” (CEND, v. I, p. 314). Isso significa que não precisamos buscar a Torre de Tesouro em qualquer outro lugar.
A todo momento e onde quer que oremos com forte fé no Gohonzon, esse tempo e esse lugar se tornarão imediatamente a Cerimônia no Ar e o Pico da Águia, e a Torre de Tesouro se erguerá bem alta. 
1. Yojana: Unidade de medida usada na Índia antiga. Acredita-se que corresponda à distância que o exército real podia marchar num único dia. De acordo com uma explicação, um yojana equivale a aproximadamente 10 quilômetros. 2. Três grupos de ouvintes da voz: Também chamado de “três grupos de discípulos ouvintes da voz”. Discípulos ouvintes da voz de Shakyamuni cuja iluminação é profetizada no ensinamento teórico (da primeira metade) do Sutra do Lótus. Lá, Shakyamuni ensina que o único propósito do advento do Buda é expor o veículo único do Buda, ou o ensinamento que conduz todas as pessoas ao estado de buda. Ele explica que os três veículos, ou os ensinamentos dirigidos aos ouvintes da voz, aos que despertaram para a causa e aos bodisatvas, estabelecidos nos sutras anteriores, não são um fim em si mesmos, mas apenas meios para guiar as pessoas ao supremo veículo do estado de buda. Esse conceito é chamado de “substituição dos três veículos pelo veículo único”. Os discípulos do buda Shakyamuni são divididos em três grupos de acordo com sua capacidade de compreensão do ensinamento: de capacidade superior, intermediária e inferior. Essa divisão tradicional de acordo com a capacidade foi empregada por Tiantai e outros estudiosos na interpretação do Sutra do Lótus. 3. Muitos Tesouros: Buda que apareceu na Cerimônia no Ar, sentado na Torre de Tesouro, para atestar a verdade dos ensinamentos expostos por Shakyamuni no Sutra do Lótus e para dar início a essa cerimônia. De acordo com o capítulo “Torre de Tesouro” desse sutra, o buda Muitos Tesouros vive no Mundo da Pureza dos Tesouros, no leste. Enquanto ainda realizava a prática de bodisatva, ele jurou que, mesmo após entrar no nirvana, apareceria para atestar a verdade do sutra onde quer que este fosse transmitido. 4. Corpo do Darma: Também chamado de Corpo da Lei. Um dos três corpos — Corpo do Darma, Corpo da recompensa e Corpo manifesto. O Corpo do Darma corresponde à essência do estado de Buda, à suprema verdade ou Lei, e à verdadeira natureza da vida do Buda. Significa também que o corpo de um buda, por si só, é a própria Lei. 5. “Três mil mundos”: Os “três mil mundos”, ou todo o mundo fenomenal, existe dentro de um único momento da vida. O número três mil é o resultado do seguinte cálculo: dez mundos x dez mundos x dez fatores x três domínios da existência. A vida em qualquer momento se manifesta em um dos dez mundos. E cada um desses mundos possui o potencial para todos os dez dentro dele, isto é, a “possessão mútua dos dez mundos”, que é representada por uma centena de mundos possíveis. Cada um desses cem mundos possui os “dez fatores”, perfazendo um total dez mil fatores ou potenciais, e estes operam dentro de cada um dos três domínios da existência, resultando, assim, em “três mil mundos”. 6. Myoho-renge-kyo: Em seus escritos, Daishonin usa frequentemente Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo, o daimoku do Sutra do Lótus. Myoho-renge-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, enquanto Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam é variação fonética de namu, composto por dois ideogramas). 7. Cinco elementos: De acordo com uma antiga crença indiana, são os cinco elementos que constituem todas as coisas no universo. São eles: terra, água, fogo, ar e espaço. Os quatro primeiros são também conhecidos como os quatro elementos básicos e correspondem, respectivamente, aos estados físicos sólido, líquido, gasoso e calor. O espaço é interpretado como integração e harmonização dos outros quatro elementos. 8. Três Corpos: Os Três Corpos que um buda possui. São eles: o Corpo do Darma, o Corpo da recompensa e Corpo manifesto. O Corpo do Darma é a verdade fundamental, ou Lei, para a qual o Buda se iluminou. O Corpo da recompensa é a sabedoria para perceber a Lei. E o Corpo manifesto são as ações benevolentes do Buda para conduzir as pessoas à felicidade. Geralmente, considera-se buda aquele que possui um dos Três Corpos. Em outras palavras, os três corpos representam três diferentes tipos de budas — o Buda do Corpo do Darma, o Buda do Corpo da recompensa e o Buda do Corpo manifesto. Baseado no Sutra do Lótus e no princípio dos “três mil mundos num único momento da vida” dele derivado, Tiantai afirmou que os Três Corpos não são entidades separadas, mas três aspectos integrantes de um único buda. A partir desse ponto de vista, o Corpo do Darma indica a propriedade essencial de um buda, que é a verdade ou a Lei para a qual o Buda é iluminado. O Corpo da recompensa revela a sabedoria, ou a propriedade espiritual de um buda, que permite ao Buda perceber a verdade. É chamado de Corpo da recompensa porque a sabedoria do Buda é considerada a recompensa derivada do esforço incessante e da disciplina. O Corpo manifesto indica ações de benevolência, ou a propriedade física de um buda. É o corpo com que um buda realiza ações de benevolência para conduzir as pessoas à iluminação. Ao discutir o seguinte trecho do 16º capítulo do Sutra de Lótus, “A Extensão da Vida”, “você deve ouvir com atenção e ouvir o segredo de Aquele Que Assim Chega [Buda] e seus poderes transcendentais”, Tiantai interpreta em sua obra Palavras e Frases do Sutra do Lótus o “segredo”, dizendo que um único buda possui todos os Três Corpos e que todos estes são encontrados dentro de um único buda. 9. Paráfrase de uma passagem contida no capítulo 11 do Sutra do Lótus, “Surgimento da Torre de Tesouro”.


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