O Aspecto Real do Gohonzon

O Aspecto Real do Gohonzon

 

Edição 562 - Publicado em 13/Junho/2015 - Página 24
As Escrituras de Nichiren Daishonin, v. I, p. 325 a 327 (tradução revisada) Com base na explanação do presidente Ikeda: TC, ed. 547, mar. 2014

Cenário histórico

Em O Aspecto Real do Gohonzon, Daishonin explica sobre os imensuráveis benefícios obtidos por se fazer oferecimentos a este Gohonzon, “o grande mandala nunca antes conhecido” (END, v. I, p. 325).
Esta carta foi escrita em agosto de 1277 e expressa a gratidão de Nichiren Daishonin pelos diversos oferecimentos que sua discípula Nichinyo fez ao Gohonzon. Pouco se sabe sobre ela, mas acredita-se que era uma mulher estudiosa e de profunda fé. Neste escrito, Daishonin elucida com grande clareza e detalhes o profundo significado do Gohonzon que concedeu a Nichinyo e os benefícios de se manter a fé nele. Ele também a incentiva a cultivar forte fé no Gohonzon.
Nichiren Daishonin diz a Nichinyo que o Gohonzon é “o grande mandala nunca antes conhecido” (END, v. I, p. 325) que permite que todas as pessoas atinjam o estado de buda. Na primeira metade desta carta, ele explica o profundo significado do Gohonzon, enfatizando a importância de se ter uma sincera fé.

Frase 1


Quão maravilhoso é o fato de que, decorridos mais de duzentos anos dos Últimos Dias da Lei, eu tenha sido o primeiro a revelar, como o estandarte da propagação do Sutra do Lótus, este grande mandala que nem mesmo Nagarjuna e Vasubandhu, Tiantai e Miaole conseguiram expressar. De forma alguma este mandala é algo que eu tenha inventado. (END, v. I, p. 323-324) Explanação
O estandarte da propagação
do Sutra do Lótus
Daishonin menciona que revelou o Gohonzon como “o estandarte da propagação do Sutra do Lótus” (END, v. 1, p. 323), indicando que a ampla propagação da Lei, ou o kosen-rufu, era o seu propósito ao revelá-lo. Ele inscreveu o Gohonzon, na forma de um mandala, para que todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei pudessem atingir o estado de buda. Seu objetivo era permitir que o maior número possível de pessoas orasse diante do Gohonzon e desfrutasse seu benefício, e possibilitar a propagação da Lei Mística para tantas pessoas quanto possível. Nesse sentido, o Gohonzon é verdadeiramente o estandarte do kosen-rufu.
Por meio de nossos esforços para compartilhar o Budismo Nichiren com os outros, concedemos a bandeira da revolução humana e da transformação cármica para uma pessoa após outra. Hastear altivamente a bandeira da propagação da Lei Mística em cada localidade é fazer o kosen-rufu avançar. O Gohonzon é o estandarte do mais alto orgulho e repleto de esperança.
Nichiren Daishonin prossegue: “De forma alguma este mandala é algo que eu tenha inventado” (END, v. I, p. 324). Ele nos assegura que o Gohonzon não é uma criação arbitrária sua. É o objeto de devoção que representa os cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo1 — a Lei para evidenciar o estado de buda inerente à nossa vida.

Frase 2


Jamais busque este Gohonzon fora de si mesma. O Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós, mortais comuns, que abraçam o Sutra do Lótus e recitam Nam-myoho-renge-kyo. (END, v. I, p. 325) 
 

Explanação

O Gohonzon existe dentro de nós
Nichinyo deve ter ficado extremamente comovida ao saber que o Gohonzon que recebera de Daishonin era o Gohonzon revelado pela primeira vez nos Últimos Dias da Lei. Porém, Nichiren Daishonin mostra um fato ainda mais surpreendente: “Jamais busque este Gohonzon fora de si mesma. O Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós, mortais comuns, que abraçam o Sutra do Lótus e recitam Nam-myoho-renge-kyo” (END, v. I, p. 325). Com isso, ele explica que o Gohonzon não existe fora de nós, mas sim em nossa própria vida. Deslocar o foco da fé e da prática do exterior para o interior do indivíduo foi uma mudança dramática.
Na época de Daishonin — e, muitas vezes, também hoje em dia — nós nos deparamos com uma visão profundamente enraizada de que somos seres diminutos, insignificantes e que a realidade última e o eterno valor habitam em algum lugar fora de nós, num local distante. Esse pensamento está totalmente ligado à crença em algum poder sobrenatural, de outro mundo.
O Budismo Nichiren, no entanto, rejeita completamente essa ideia. Ele ensina sobre a verdadeira realidade da vida na qual a Lei eterna e imutável se manifesta nas pessoas comuns, que vivem aqui e agora.
O termo “buda”, afinal, significa “iluminado”. Mas para o que o Buda se ilumina? Para aquilo que deve constituir a verdadeira base da nossa vida — ou seja, a Lei e a verdadeira essência do nosso ser. Ele despertou para a Lei universal que permeia todos os fenômenos, que fora encoberta pela escuridão fundamental;2 e também para a grandeza da vida de cada indivíduo que é uno e indivisível com a Lei.
“O Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós” — o real significado dessa afirmação é que o Gohonzon inscrito por Daishonin funciona como um meio pelo qual conseguimos despertar e evidenciar o Gohonzon (estado de buda) dentro de nós. Quando oramos diante do Gohonzon físico, o mesmo Gohonzon está em nosso coração; ele se manifesta claramente quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo para a nossa felicidade e a felicidade dos outros.
Em outra carta que Daishonin enviou a Nichinyo no ano seguinte (1278), intitulada Uma Síntese de “Transferência” e de Outros Capítulos, ele escreve de forma similar: “Quando pondero onde o capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro” [no qual a Torre de Tesouro surge e a Cerimônia no Ar se inicia] está agora, vejo que deve ser encontrado no Lótus de oito pétalas3 do coração dentro do peito da Dama Nichinyo” (Ibidem, p. 85). [Com isso, Daishonin explica que o Gohonzon, que incorpora a Torre de Tesouro que representa o estado de buda, encontra-se dentro de nós.] Quando Nichinyo leu essas palavras de Daishonin, sem dúvida ela se recordou de sua afirmação anterior de que “O Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós”. Nesses trechos, as expressões “dentro do corpo de pessoas como nós” e “no Lótus de oito pétalas do coração” têm o mesmo significado de “nas profundezas de sua própria vida”.

Frase 3


O mais importante é que, recitando apenas o Nam-myoho-renge-kyo, a senhora poderá atingir o estado de buda. Sem dúvida, isso dependerá da força de sua fé. Ter fé é a base do budismo. (END, v. I, p. 326) 
 

Explanação

A importância da sincera fé na Lei Mística
Por meio de uma sincera fé no Gohonzon, podemos atingir um eterno estado de felicidade absoluta, repleto de alegria, tanto na vida como na morte. É por isso que Nichiren Daishonin escreve: “O mais importante é que, recitando apenas o Nam-myoho-renge-kyo, a senhora poderá atingir o estado de buda” (END, v. I, p. 326). O objetivo fundamental da nossa prática budista é atingir o estado de buda tal como somos, por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo diante do Gohonzon.
Daishonin afirma que a chave para alcançarmos o estado de buda em nossa forma atual “dependerá da força de nossa fé” (cf. END, v. I, p. 326). Em outra carta [Resposta à Monja Leiga Nichigon], ele escreve: “O fato de sua oração ser ou não respondida depende de sua fé; [caso não seja], a culpa não está, de modo algum, em mim, Nichiren” (END, v. 6, p. 95).
Os poderes de nossa fé e de nossa prática ativam o poder do buda e da Lei incorporados no Gohonzon, fazendo surgir benefícios em nossa vida. A fé é fundamental. Uma fé forte, vibrante, é o poderoso motor para a ação e para a prática.
Nichikan Shonin (1665—1726), um grande restaurador do Budismo Nichiren, escreveu: “Se você tem fé neste Gohonzon e recita Nam-myoho-renge-kyo, mesmo por curto período, não haverá oração sem resposta nem pecado imperdoável, toda fortuna será concedida e toda justiça será provada”. Desde os primeiros dias da nossa organização, essa passagem tem ajudado muitos membros a cultivar firme fé no Gohonzon. Eles despertaram para o Gohonzon que existe dentro do seu próprio ser e evidenciaram a energia vital de que precisavam para superar todas as adversidades. Nenhuma oração baseada na fé no Gohonzon ficará sem resposta. Isso é um fato incontestável que nós, da Soka Gakkai, comprovamos por meio da fé.
Em outra carta [O Significado da Fé], na qual Nichiren Daishonin menciona as mesmas passagens do Sutra do Lótus deste escrito para Nichinyo — “abandonando honestamente os ensinamentos provisórios” e “não aceitando sequer um único verso de outros sutras” —, ele oferece um exemplo para destacar a importância da fé advinda de um coração puro: “Como uma criança se recusa a deixar sua mãe” (Ibidem, p. 93). Certamente, uma criança é totalmente dependente da sua mãe e confia inteiramente em seu amor. Daishonin, então, usa isso para ilustrar a importância primordial da fé. Nossa vida, em certo sentido, começa quando depositamos nossa confiança ou fé neste mundo em que nascemos.
1. Myoho-rengue-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, enquanto Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam, variação fonética de namu, é composto por dois ideogramas). Em seus escritos, Nichiren Daishonin usa frequentemente Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo. 2. Escuridão fundamental: Ilusão profundamente enraizada na vida e da qual derivam todas as outras ilusões. Consiste na incapacidade de ver ou reconhecer a verdade, particularmente a que diz respeito à verdadeira natureza da vida. 3. “Flor de lótus de oito pétalas do coração”: refere-se ao conjunto que abarca o coração, pulmões e outros órgãos da cavidade torácica, que se acreditava que se pareciam com uma flor de lótus de oito pétalas.

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